Cada vez sou
possuidor de menos certezas na vida, mas se há uma que tenho, porventura
imutável, é a de que um Povo detentor de uma boa Educação e Formação, é um Povo
menos permeável ao engano. Assim como, a mais acessível e menos perniciosa de
todas as formas de luta pela igualdade, é a reflexão. Esta pode ser, Mãe e Pai
de toda e qualquer outra forma de contestação.
Ora aqui entroncam
vários problemas, que creio serem merecedores de umas linhas. Temos, de facto,
uma Educação e Formação à altura dos desafios do Séc. XXI, assim como as
defesas que estas fornecem contra ataques à Democracia, ao bem-estar dos
Cidadãos e ao garante da Liberdade? Somos todos cidadãos devidamente
informados, ao sair da escolaridade obrigatória, dos nossos direitos e deveres,
das nossas responsabilidades e obrigações? Esta a ser respeitada a
Constituição, no seu artigo 73º e 74º, texto base da nossa Democracia, nos
quais se explicitam os nossos direitos à educação e ensino? Ou, estamos neste
momento, numa insustentável leveza no Educar?
Vários têm sido os
Governos, Ministros, actrizes e actores do nosso domínio público, que
desfraldam e embrulham a bandeira da Educação, conforme lhes dá maior ou menor
jeito, ao sabor das marés, da contenção ou desvario orçamental, com reformas e
contra-reformas sem, no meu entender tocarem em alguns pontos fundamentais. A
arte de educar e formar, deveria ter duas componentes indissociáveis entre si,
a componente da educação académica e a outra, não menos importante da formação
de cidadãos. Os resultados da primeira, temo, não são animadores, nos dois
campos básicos e obrigatórios, o Português e a Matemática, sendo em alguns
casos vergonhosos, tamanhos são os pontapés na gramática e semântica. Mas se
formos ao segundo princípio básico, a formação de cidadãos, os resultados não
chegam para ir a oral.
O desconhecimento das
leis fundamentais pelas quais nos regemos e pelas obrigações tributárias, não
fazem de nós cidadãos de plenos poderes. Quando confrontados com a realidade,
ou temos capacidade financeira para recorrer a profissionais da área, ou somos
enrolados numa teia, que no mínimo nos causa prejuízos monetários e no máximo
nos delapida de toda e qualquer liberdade. Parece-me por isso pertinente, que
fosse incluída na escolaridade obrigatória, duas disciplinas. Uma de Direito
(digamos básico) e uma de Cálculo Tributário, que na impossibilidade de ser por
si só uma disciplina, deveria ser incluída na Matemática, que deixaria de
oferecer nos seus manuais, exercícios de cálculo sem qualquer interesse, para
outros, com base nas taxas de IRS, de IVA, etc. Assim, creio que seriam
fornecidas duas ferramentas básicas, que dotariam os cidadãos de uma capacidade
maior, para depois, mais tarde e no Ensino Superior, se complementarem com
outras, direccionadas mais especificamente para uma área. Espero, um dia, ver
estas propostas como base para um amplo debate entra as partes interessadas,
talvez quando tivermos a capacidade de olhar para o Ensino, como quem entra num
Restaurante para uma refeição saudável, ao invés de alguém que olha a ementa
com base no preço. Estaria assim, de uma forma quase plena, o cumprimento da
alínea 2, do artigo 73º da Constituição Portuguesa: “ 2. O Estado promove a democratização da educação e as demais
condições para que a educação, realizada através da escola e de outros meios
formativos, contribua para a igualdade de oportunidades, a superação das
desigualdades económicas, sociais e culturais, o desenvolvimento da
personalidade e do espírito de tolerância, de compreensão mútua, de
solidariedade e de responsabilidade, para o progresso social e para a
participação democrática na vida colectiva.”
Se no caso anterior,
se procura o aperfeiçoamento, neste que partilho, nunca foi respeitada a
Constituição: Artigo 74º - “2. Na
realização da política de ensino incumbe ao Estado: e) Estabelecer
progressivamente a gratuitidade de todos os graus de ensino;”.
Ainda hoje, nem todo
o ensino é gratuito, não está perto disso sequer e estamos no caminho oposto
para tal. Se muitos dizem que isto é uma utopia, ainda não vi ninguém reflectir
o suficiente, sobre o porquê de não estarmos no trilho da gratuitidade, em
especial, no Ensino Superior, que pode ser fonte de receita, pela via do
aplicar do conhecimento dos alunos junto das empresas.
Luís Miguel Santos
Luís Miguel Santos
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